‘Catherine não sabe o que quer’ e outros poemas
Laura Vaz
Domingo
A porta
está aberta
e a palavra
fica
na soleira
sem entrar
nem sair
acomoda-se ali.
Catherine não sabe o que quer
sempre deixa alguns itens na boca do caixa
algo como um crime
às vezes a moça lhe pergunta: vai levar?
ao que diz: não!
sente-se autônoma
não devolve as coisas para seus devidos lugares
não leva não avisa
será que fica decepcionada
a moça do caixa?
10 am is when you come to me
Essa noite sonhei que enrolava seus cachos nos meus dedos
Acariciei a casca
Vi alguma beleza
Na quase fechada ferida
Já se passaram três verões nesta terceira casa
A primeira casa
Quando aparece nos sonhos
Não diz nada
A segunda e esta são ainda mais silenciosas
Saio às 7:00
O ar condicionado do ônibus é forte demais
Nesse momento sinto uma quase falta
Da sua camisa puro linho
Roçando no meu ombro
*série de pinturas de Louise Bourgeois
Marina
Quando pequena
Gostava de equilibrar-me nas pedras
Sabia dos musgos
Aos seis, roubei uma estrela do mar
Guardei numa compota de doces
Longe do mar
Passei a observar as mulheres
Como despem seus lenços
Como manipulam seus objetos
Algumas espécies caminham lentamente
Um desejo me persegue:
Devolver a estrela para o mar
Ver todo o peso da memória
Afundar ∎
Edição: Luiz Eduardo Freitas
Laura Vaz tem 27 anos. Nasceu em São Gonçalo, mora em Maricá (RJ). É graduada e licenciada em Filosofia pela UFF, onde também cursou o mestrado em Estética e Filosofia da Arte. É professora de Filosofia da rede estadual de ensino. Tem poemas publicados nas revistas mallarmargens e Enfermaria 6.