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eclética, plural e poética

Foto: Dener Ariani

Discografia

VIPER

Soldiers of Sunrise (1987) 

Theatre of Fate (1989)

To Live Again Live in São Paulo (2014)

ANGRA

Angels Cry (1993)

Holy Land (1996)

Freedom Call (1996)

Holy Live (1997)

Fireworks (1998)

VIRGO

Virgo (2001)

SHAMAN

Ritual (2002)

Ritualive (2003)

Reason (2004)

ANDRE MATOS

Time to Be Free (2007)

Mentalize (2009)

The Turn of the Lights (2012)

SYMFONIA

In Paradisum (2011)

“Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa!”, fala no microfone um rapaz magro e baixo de 15 anos, no auditório do Colégio Rio Branco, em São Paulo. A sua postura, no entanto, não transmite arrependimento: com mãos na cintura e sem camisa, veste uma calça de couro e exibe longas madeixas. Minutos antes, o jovem cantor Andre Matos tinha entrado no palco correndo e agitando uma tocha de fogo, improvisada com um cabo de vassoura e querosene. A intenção era imitar a performance piromaníaca dos grandes astros do rock da época; mas as labaredas da cenografia precária incendiaram parte do palco e da bateria que compunha o cenário da apresentação de rock dos adolescentes. A forte fumaça e o princípio de incêndio chegaram a causar algum pânico na plateia, cujos gritos são ouvidos nas gravações em vídeo ainda disponíveis desta performance do Viper em 1987. Com as chamas apagadas pela equipe, o vocalista pede desculpas e anuncia para a audiência de colegiais que vão voltar a tocar a música interrompida, faixa título do álbum de estreia da banda de metal brasileira, Soldiers of Sunrise (1985). 

O incidente no começo da carreira, os muitos graus de miopia e as condições inicialmente precárias não impediram que Andre se consagrasse um dos maiores nomes do power metal mundial. O gênero, uma vertente do rock surgida no final dos anos 80, caracteriza-se pelos vocais agudos e pelos instrumentais virtuosos e rápidos. Em meio às muitas bandas europeias que ajudaram a popularizar o estilo no começo dos anos 90, como os alemães do Helloween e os finlandeses do Stratovarius, está o próprio Angra, grupo brasileiro co-fundado por Andre Matos. A morte do cantor em junho passado, aos 47 anos, é prematura se consideramos sua idade, mas deixa um legado profícuo. Ao longo dos mais de trinta anos de carreira, o brasileiro foi ainda responsável por criar outros dois grupos que, aparte o Angra, são os mais célebres representantes brasileiros do estilo internacionalmente: o Shaman, formado depois por dissidentes do Angra, e o Viper, a primeira banda de Andre.

Sua entrada nesse grupo foi casual, como os demais membros do Viper gostam de relembrar em entrevistas. Em 1985, quatro amigos adolescentes, que eram vizinhos de prédio e começavam a aprender alguns instrumentos, conversaram sobre formar uma banda de heavy metal com músicas em inglês. Alguns deles foram à primeira edição do Rock in Rio, onde assistiram e se deslumbraram com os shows de bandas como Queen, Whitesnake e, principalmente, Iron Maiden — que se estabelecia, à época, como uma das maiores bandas de metal do mundo. Nascia então a vontade de serem estrelas do rock. Mas, para isso, ainda precisavam de um vocalista.

O pontapé inicial no projeto de sucesso internacional se deu a partir de um costume bastante brasileiro: um dia, os rapazes jogavam futebol no play, quando um chute mais forte fez com que a bola fosse parar no prédio do lado, onde morava Andre. Embora não fosse cantor, o menino já fazia aulas particulares de piano há alguns anos e demonstrava afinação na voz. O fator determinante para a escolha de Matos como frontman do grupo, no entanto, foi o fato de se parecer com o vocalista britânico do Iron Maiden, Bruce Dickinson. O pai de Andre o levara, algumas semanas antes, ao centro de São Paulo para comprar alguns adereços que compõem as vestimentas características dos músicos (e fãs) de heavy metal, o que certamente ajudou a causar boa impressão nos vizinhos. Munido de pulseiras e cintos com espinhos de metal, além de calças apertadas e muito couro, o garoto de 13 anos aceitou o convite dos novos amigos.

Em 16 de janeiro de 1999, quinze anos depois, Andre faz, com o Angra, um show que lota uma das grandes casas de shows de Paris à época, o Zenith, com capacidade para quase 7 mil pessoas. Na abertura do show, artistas circenses cospem fogo por todo o palco, em um espetáculo que anima a plateia. No final do repertório autoral, Andre, empolgado, grita: “Bienvenu, Monsieur Bruce Dickinson!”. O ídolo de infância, nesta época recém-separado do Iron Maiden (grupo para o qual ele retornaria alguns anos depois, e onde segue até hoje), divide os vocais com o brasileiro em duas músicas, no que foi uma das raras participações de Bruce em shows de outras bandas. Visivelmente emocionado, Andre mal consegue conter a empolgação de se apresentar com o maior cantor do gênero de todos os tempos. Mais tarde, em entrevistas, elencaria esse momento como um dos pontos altos da sua carreira. O featuring era sinal da magnitude que o trabalho de Andre tinha tomado, quinze anos depois de sua entrada na cena do metal: sua segunda banda, o Angra, era digna de estar lado a lado com os maiores artistas do gênero e se tornara um dos grupos mais promissores do estilo.

 

Brasil, berço do power metal?

“Quando o Led Zeppelin, uma banda inglesa do fim dos anos 60, início dos anos 70, começou a acontecer, houve uma explosão de uma fábrica de metal pesado, que foi uma notícia muito grande na época. As duas notícias acabaram se unindo em uma só, e o nome do estilo passou a ser heavy metal.” A lenda urbana, narrada por Andre Matos em entrevista ao programa De Frente com Gabi, em 2002, é apenas uma das versões que tentam dar conta da etimologia do termo heavy metal. A expressão, cujas primeiras ocorrências constam no vocabulário beatnik de autores como William Burrough, passou a ser aplicada à descrição de um estilo de sonoridade no final dos anos 60. Entre as bandas que ajudaram a popularizar o som que posteriormente tornou-se conhecido como metal, estão Led Zeppelin e Black Sabbath. Mas foi no começo dos anos 80, com a chamada nova onda do heavy metal britânico, que o estilo se consolidou como um gênero de música próprio. Álbuns como British Steel (1980), do Judas Priest, Ace of Spades (1980), do Motörhead, e Killers (1981), do Iron Maiden, estouraram na Inglaterra e vieram a inspirar jovens no mundo inteiro.

 

Rapidamente, o estilo evoluiu e se ramificou: as bandas exploravam a nova sonoridade do heavy metal de diferentes maneiras, ressaltando algumas características diferentes. São essas variações nos arranjos e na sonoridade que dão origem às várias subclassificações do metal, como o próprio power metal. Nos anos seguintes, grupos como Slayer, Venom, Metallica e o brasileiro Sepultura desenvolveram o lado mais “extremo” do metal, dando vazão a vocais agressivos e harmonias mais dissonantes — e o que se convencionou chamar de thrash metal. No final dos anos 80, a banda alemã Helloween orienta seu metal para o lado oposto, com elementos mais positivos e otimistas, com muita velocidade e notas agudas, no que o historiador Ian Christe classifica, em seu livro Sound of the Beast: The Complete Headbanging History of Heavy Metal (2003), como “melodic Iron Maiden-on-speed". Popularmente, o subgênero tornou-se conhecido como power metal, e desde os anos 90, é uma das categorias mais populares do metal. Nos grandes festivais europeus de heavy metal, como o alemão Wacken Open Air, que reúne em média 80 mil pessoas a cada ano, as atrações principais não raramente são grupos de power metal ou metal melódico (como o estilo é conhecido no Brasil).

 

Curiosamente, os discos clássicos do Helloween, considerados os inaugurais do gênero, são praticamente contemporâneos aos do começo da carreira de Andre Matos, quando estava à frente do Viper. “A gente não conhecia bandas desse estilo. O próprio Helloween, que é uma banda muito citada por ter um som parecido com o nosso, apareceu no Brasil depois de termos o repertório do primeiro disco, que foi desenvolvido de 84 a 86”, me contou em entrevista Felipe Machado, guitarrista do Viper. Não é difícil imaginar como isso pode ter ocorrido. A cena de metal paulistano ainda era relativamente jovem, e os discos e instrumentos próprios não eram facilmente importados. Em entrevista ao jornal O Tempo em dezembro de 2017, Andre narrou sua maior lembrança do começo de carreira: “uma certa dificuldade em ‘nadar contra a maré’ naquele período de fim de ditadura, com o país fechado, em que quase não entrava informação”. 

“A gente gostava muito de Iron Maiden”, continua Felipe. “O Metallica a gente conheceu nessa época, e foi a banda que nos influenciou em termos de tocar mais rápido.” As inspirações notam-se facilmente no primeiro disco. Embora as boas composições tenham sido responsáveis por posicionar a banda como destaque da nascente cena de rock pesado paulistana, é no segundo álbum do Viper, Theatre of Fate (1989), que a influência criativa de Andre se faz notar. Os arranjos, que refletiam o seu interesse em música erudita, eram feitos sobre as composições rápidas e melódicas de Pit Passarell, baixista e principal compositor do Viper. Em entrevista para o site Whiplash em outubro de 2014, Andre descreveu o processo: “No disco Theatre of Fate eu fiz todo o arranjo e convidei um quarteto de cordas para fazer a performance. No estúdio, tinha um ótimo piano, em que eu pude desenvolver umas partes e tocar. Então tudo começou assim e nunca mais parei." 

 

O resultado, coincidentemente, se encaixava em um subgênero que vinha sendo fundado na Europa. “Nessa época nós criamos uma identidade. A ideia de misturar elementos de música clássica com metal foi minha e também casou com as composições que o Pit estava fazendo”, conta Andre. Em entrevista à Folha de S. Paulo em junho de 2012, Pit Passarell complementa a história com uma analogia futebolística: “Digamos que o Andre é o Paulo Henrique Ganso, do Santos, e eu sou o Neymar da banda (risos).”

 

A única composição de Andre no segundo disco do Viper, “Moonlight”, reflete seu encantamento com a música erudita. A faixa é inspirada na “Sonata para piano n. 14” de Beethoven, e combina os suaves e melancólicos acordes da peça com arranjos de bateria e guitarra distorcida, além da estridente voz adolescente de Matos — à época com 17 anos —, que canta, em inglês, melodias em um registro incrivelmente agudo. A mistura, que em mãos menos hábeis poderia soar dissonante, resulta em uma singela balada de heavy metal que não soa parecida com muita coisa que se fazia na época.

 

A fusão entre o rock e a música clássica se tornaria um mote na sua carreira, determinante para o seu destaque no estilo de música que viria a perseguir. Mas o Viper foi importante não só musicalmente: a banda ajudou Andre a desenvolver um lado performático, pelo qual também viria a ser conhecido nos palcos mundo afora. "No Viper, ele pôde descobrir esse lado como vocalista, esse lado de frontman. No fundo, ele era um cara tímido, não gostava de badalações, de sair. Gostava de sentar numa mesa para conversar", descreve Felipe Machado.

 

A participação de Andre nos palcos de metal, no entanto, foi interrompida pelo desejo de formalizar seus estudos musicais. Após entrar na graduação em regência e composição, e perceber que era difícil conciliar os estudos com a rotina de ensaios da banda, decide deixar o Viper, ambicionando perseguir carreira no mundo da música erudita. Para o adolescente que há muitos anos já era um prodígio no piano e ouvia diversos estilos de música, ser uma imitação brasileira de Bruce Dickinson era pouco. Felipe Machado atribui a decisão à personalidade de Matos. “O Andre era um cara muito determinado, muito perfeccionista. Ele dizia que era porque ele era de Virgem, ele acreditava nessas coisas de astrologia (risos). Ele levava a sério o que ele curtia; em relação à música clássica, ele queria fazer tudo do jeito (certo), fez a faculdade e tudo mais.”

 

Após alguns anos na faculdade, Andre começou a ter dúvidas sobre o futuro na carreira erudita. “O lance da música erudita é solitário, você fica seis horas por dia sozinho”, contou, em entrevista para o De Frente com Gabi em 2001. “Faz um pouco mal se a pessoa não tiver estrutura para isso, e eu considero que eu não tinha. Eu precisava estar em contato com outras pessoas para fazer música.”

 

No meio da graduação, Matos conheceu o guitarrista Rafael Bittencourt e soube de sua ideia de montar uma banda que unisse elementos de música erudita e música brasileira com rock. Há pouco tempo longe dos palcos, o cantor já era conhecido por estar à frente do Viper não só entre a juventude paulistana; o sucesso da banda atraíra a atenção de gravadoras estrangeiras, que tinham interesse em mais material com o vocalista.

 

Assim, Andre e Rafael, já com a promessa de poder gravar e lançar um álbum internacionalmente, se juntam a outros três músicos para compor e ensaiar as músicas (dos quais apenas um chegaria a gravar o primeiro álbum do Angra em 1993, o baixista Luis Mariutti; os outros dois seriam substituídos pelo alemão Alex Holzwarth, posteriormente conhecido por participar da banda italiana Rhapsody, e Kiko Loureiro, que permaneceu no Angra até 2015, quando deixou a banda para integrar o Megadeth, grupo americano de thrash metal). Andre, Rafael, Luis, Kiko e Alex (substituído, ao vivo, por Ricardo Confessori pouco tempo depois) gravam Angels Cry (1993), que imediatamente se torna sucesso no Japão, conquistando disco de ouro pelas vendas de mais de 100 mil cópias, e alcança popularidade considerável em boa parte da Europa.

 

 

O sucesso internacional

 

O heavy metal possui um estatuto social curioso. Bebe de elementos da música erudita, embora não seja considerado um estilo musical próprio da alta cultura. Ao mesmo tempo,  faz questão de se se afirmar como superior à música popular. É uma música de difícil difusão, que geralmente circula entre os “iniciados”, e, portanto, fica presa em um mercado de nicho. Talvez por isso tenha se popularizado entre os jovens: descobrir as nuances do som do heavy metal é como adentrar um universo novo, pouco acessível a ouvidos destreinados. Os ouvintes precisam experimentar algum tipo de ritual de passagem que configura a sua identificação com o estilo musical, o que geralmente inclui também a adoção de características comportamentais, como um certo modo de se vestir e a recusa de estilos muito diferentes.

 

O público do heavy metal abarca as mais diferentes vertentes políticas, e talvez o elemento ideológico comum seja a própria admiração pela sonoridade. Talvez isso explique também por que boa parte dos headbangers (como se denominam os fãs de metal) é tão conservadora com a sua música: afeitos a um gênero pouco valorizado pela elite cultural e ridicularizado pela cultura pop mainstream, torcem o nariz para tudo que se afasta demais para um dos extremos do espectro musical antes consolidado.

Existem certos elementos fixos que compõem o gênero e suas subclassificações, quase como fórmulas. 
Não é difícil explicar, na teoria, o que faz um bom álbum de power metal tradicional. Em primeiro lugar, as músicas são tão boas quanto a melodia de seu refrão, que deve ser empolgante e ascendente, causando a sensação de satisfação que provavelmente dá origem à denominação “power”. Em segundo, os arranjos e as performances dos músicos são importantes: para compensar as linhas melódicas simples, busca-se complexidade nas frases de guitarras — que devem ter ainda momentos de solos intrincados — e velocidade na bateria. Por fim, cantam-se letras otimistas no tom mais alto possível.

 

Talvez seja por dominar esses elementos com maestria que “Carry On”, faixa de abertura do primeiro álbum do Angra composta por Matos, tenha se tornado um clássico no estilo. Já na abertura, os marcantes riffs de guitarra se seguem às complicadas frases de baixo e teclado. No verso, o timbre singular de Andre, ao mesmo tempo suave e ressoante, canta versos melancólicos: “Simple minded brain / For now you succumb / Nothing changes your way / This world insists to be the same / Based on our mistakes”. É no cativante refrão da música, no entanto, que a voz aguda do vocalista brilha. Na última repetição, a melodia sobe alguns tons, enquanto Matos entoa a virada positiva da letra a plenos pulmões: “So carry on / There’s a meaning to life / Which someday we may find / It’s time to forget / The remains from the past”.

 

Pode ser que o sucesso de Angels Cry, contudo, não se deva somente ao modo como domina a fórmula do power metal, mas principalmente à maneira como se arrisca a superá-la. Um cover da cantora pop inglesa Kate Bush, “Wuthering Heights”, desafia padrões do gênero em mais de um sentido: se contrapondo ao forte preconceito dos headbangers contra estilos musicais mais populares e encarnando um eu-lírico feminino em uma cena até então muito marcada pelo machismo. Além disso, a forte presença dos elementos de música clássica, como arranjos de orquestra, teclados sintetizados e algumas citações de peças eruditas — influência da formação clássica de Matos —, fizeram com que alguns críticos classificassem a banda em um novo subgênero de power metal, o neo-classical metal.

 

Mesmo que já fizesse um som semelhante no Viper, a notoriedade internacional de Matos veio com o primeiro álbum do Angra, o Angels Cry — lançado quando o Helloween já havia estourado internacionalmente. Ainda assim, o papel do cantor e compositor brasileiro como um dos precursores de um estilo particular é reconhecido por alguns dos músicos europeus mais renomados do power metal. “Quando eu ouvi pela primeira vez o álbum Angels Cry, do Angra, foi realmente a primeira vez que ouvi esse tipo de música. Ninguém estava fazendo isso”, declarou Tobias Sammet, vocalista e fundador de uma das maiores bandas de power metal na atualidade, a alemã Avantasia, em entrevista de abril de 2016 ao site Whiplash. “Ao ouvir as canções, ao ouvir aquela canção ‘Carry On’, eu pensei: ‘Jesus Cristo! Este é o som da música que eu quero ouvir. E aparentemente existe alguém do outro lado do mundo que toca esse tipo de música’.” Mesmo que os europeus sempre tenham sido os principais divulgadores do gênero, Sammet sentiu-se influenciado e impressionado com o som dos brasileiros. “A voz do Andre, os arranjos do Andre, as capacidades de orquestração do Andre, a sua composição, era de explodir a cabeça", relembra.

 

“É claro que o Angra exerceu muita influência”, me contou recentemente por e-mail Sascha Paeth, produtor alemão do Angels Cry que assinaria a produção da maioria dos álbuns da carreira de Matos. “Muitas pessoas com quem trabalhei depois reverenciavam o Angra como seus heróis. Muitas pessoas com quem eu falava contavam que cresceram ouvindo Angra e, é claro, ele influenciou a música delas e o gênero como um todo.” Após ter produzido Angels Cry, Paeth se tornou um dos produtores de power metal mais proeminentes do mundo, tendo trabalhado com bandas internacionalmente celebradas, como a americana Kamelot, a alemã Edguy e a italiana Rhapsody. “Quando Luca [Turilli, guitarrista e líder do Rhapsody] me ligou, na primeira vez que nos falamos, ele me contou que o Angra era uma das suas principais influências, por exemplo”, me disse Sascha. “Eu acho que eles influenciaram muitas pessoas. Exatamente como, eu não sei. Mas era uma banda muito característica, com um som muito específico, que as pessoas tentaram copiar às vezes.”

 

Com Angels Cry, o Angra adquiriu notoriedade no cenário do heavy metal internacional. Mas, se o gênero não era muito disseminado na grande mídia europeia, sequer era conhecido no Brasil. “Só pelo estilo de cabelo deles, você já sabe que eles são meio revoltadinhos”, anuncia a apresentadora um programa dominical vespertino da TV Mulher, no qual a banda participava para a divulgação do primeiro disco em 1994. “Angra é o nome deste grupo de rock, que talvez seja mais conhecido no Japão do que no Brasil.”

 

A aparente inadequação entre a origem brasileira e as ambições de produzir música em um gênero eminentemente europeu foi transformada em um diferencial artístico. Se a qualidade dos músicos se exprimia no domínio da fórmula do power metal, é a presença de ritmos e influências da música brasileira que configuraria o estilo do Angra como único no cenário mundial do heavy metal. E embora a intenção de misturar esses dois universos estivesse presente desde a fundação da banda, os elementos nacionais aparecem apenas de forma tímida no primeiro álbum — como na faixa “Never Understand”, em que se nota o uso do ritmo do baião e uma citação de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga.

 

O fato de terem escolhido gravar Angels Cry na Alemanha para atingir o padrão de bandas internacionais causou uma inconveniência inesperada. No primeiro álbum, a presença de elementos brasileiros foi mal compreendida pelos produtores alemães, Charlie Bauerfeind e Sascha Paeth, que se esforçaram para suprimi-los. “Modificaram muita coisa. Isto tem que ser dito. Irritava-nos o fato de mexerem na nossa música”, disse Andre em entrevista em outubro de 1994. Bauerfiend, entrevista de 1996, explica o estranhamento inicial entre banda e produtores: “o estilo europeu é mais rígido, enquanto o estilo brasileiro é mais solto, tem um sentimento parecido com o samba. Então é uma grande diferença trabalhar com uma banda brasileira, em comparação a uma banda europeia”, disse. Paeth, co-produtor, complementa: “Para mim, foi um estilo novo. O jeito [de tocar] era totalmente diferente, não era como Helloween ou Iron Maiden. Não era apenas heavy metal. Talvez seja porque, obviamente, eles são brasileiros”. É no segundo disco de estúdio da banda, Holy Land (1996), que a identidade brasileira das influências musicais do Angra seria melhor explorada.

 

A busca pela brasilidade

 

O segundo disco do grupo, que então já era melhor compreendido pelos produtores, representa a liberdade criativa do quinteto. Tendo conquistado certo sucesso com o álbum de estreia, o Angra sentia-se à vontade para levar a cabo a proposta original da banda: mesclar rock, música clássica e música brasileira. “É um álbum sobre a descoberta da América, e o que aconteceu desde aquela época até agora”, descreveu o Andre Matos de 24 anos para a TV francesa que fazia uma reportagem sobre as gravações do disco, em 1996. “E isso tem tudo a ver com o som que a banda está fazendo. Estamos adicionando muitos elementos regionais.” Na mesma reportagem, Andre aparece cantando “Garota de Ipanema” e “Chega de saudade” nas ruas de Hanover, onde gravava o disco, acompanhado dos guitarristas Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro.

 

"A gente tinha essa ideia de tentar fazer o heavy metal brasileiro. O rock brasileiro existia com Raul Seixas e Mutantes, vinha dos anos 70. Mas o heavy metal que eu cresci ouvindo, adolescente, era bem a cara do americano e do europeu”, contou Kiko Loureiro recentemente, em show de setembro de 2019. “E nos 90 teve um lance de misturar o rock e a identidade brasileira, com o Sepultura e o Angra, onde a gente tentou fazer isso; e no rock brasileiro, Raimundos, Nação Zumbi e Chico Science também tentavam encontrar o que seria o rock autêntico brasileiro.”

 

O esforço criativo para produzir a mistura inusitada entre metal e música brasileira resultou em Holy Land (1996). O álbum seria aclamado posteriormente como o mais original da banda, a obra responsável por colocá-la definitivamente no mapa do metal internacional. Já na música de abertura, “Nothing to Say”, ouve-se um groove de bateria pouco habitual para o gênero. Sobre a levada brasileira, as letras narram um cenário de guerra, tema costumeiro para músicas do estilo; no entanto, não se trata das guerras medievais tematizadas pelas bandas europeias, mas da invasão dos colonizadores portugueses. Os versos abordam como as incursões europeias, motivadas por ganância, dão lugar à culpa e a traumas pela violência cometida — “Oh, the sounds, they still echo / All of us drifting on seas of blood / The hope hidden behind the horror”. Se o Sepultura, na mesma época, explorava a mistura entre ritmos brasileiros e um thrash metal mais pesado e agressivo, o Angra apresentou uma maneira mais delicada de fundir as influências brasileiras com o power metal, priorizando melodias e harmonias. No meio da música, a bateria e os riffs rítmicos de guitarra são interrompidos, dando lugar a um interlúdio orquestrado que remete à chegada da música europeia. O trecho instrumental termina com a junção entre orquestra e banda.

 

Todo o grupo estava empenhado na pesquisa por uma identidade própria, que pudesse caracterizar o metal vindo do Brasil, o que se refletiu tanto nas misturas musicais quanto nas letras das músicas. “A gente se identificou muito com o tema da América pré-colombiana”, afirmou Andre em entrevista ao UOL em 2016. O tema da colonização atravessa todo o álbum, e até o encarte do CD pode ser transformado em um pôster que imita o estilo dos mapas renascentistas. No centro da capa está o Brasil, marcado por uma rosa dos ventos.

 

“Além da pesquisa histórica, fomos atrás de materiais que estavam disponíveis de gravações originais, ritmos e melodias regionais do Brasil. O resultado final é tão compacto, tão bem arrumado, que resultou no melhor disco do Angra”, avalia Matos. A junção entre as influências da música brasileira e o heavy metal europeu é particularmente bem explorada em “Carolina IV”, música bastante progressiva que começa e termina ao ritmo de maracatu, contando ainda com uma citação de Hermeto Pascoal. Já a faixa-título do álbum, “Holy Land”, é composta apenas por Andre, cujas linhas de piano imitam os tons de um berimbau.

 

“Uma das coisas especiais sobre a música do Angra era essa influência da música brasileira, feita de maneira bastante suave, bastante integrada”, me contou Sascha Paeth. “É claro, tínhamos músicas como ‘Holy Land’, em que havia [mais destaque], mas não era combinado de maneira artificial, era realmente [os dois estilos] se misturando, naturalmente. As coisas vinham juntas. Eles tinham grooves em que [a mistura] simplesmente funcionava, porque, afinal, eles eram brasileiros.”

 

Embora o álbum tenha inicialmente recebido críticas negativas por parte do público brasileiro, acostumado a separar o heavy metal à moda europeia e a música nacional, o som inédito criado com Holy Land chamou atenção no mercado internacional. Com o disco que tematizava a vinda dos colonizadores europeus para o Brasil, a carreira do grupo de brasileiros firmou pés na Europa. A boa recepção do álbum, em particular na França, potencializa ainda mais o sucesso da banda, já renomada no Japão. Uma reportagem da Folha de S. Paulo de 20 de maio de 1996 atesta o êxito do grupo: “A carreira internacional do Angra pode ser dimensionada pela quantidade de capas que a banda ganhou em sua turnê de divulgação do álbum Holy Land, lançado aqui no mês passado pela Eldorado. Angra está na capa da revista italiana ‘Flash’, e das japonesas ‘Young Guitar’ e ‘Burrn’ (uma reportagem de 14 páginas). Na edição francesa da revista ‘Hard and Heavy’, o CD Holy Land é o álbum do mês, com a cotação máxima de cinco estrelas.”

 

É na turnê do segundo disco que o Angra faz as suas primeiras grandes incursões internacionais, gravando um show na França que se transformaria no EP Holy Live (1997). Ao vivo, a banda entrega uma excelente apresentação: todos os músicos são exímios em seus instrumentos, e a performance de algumas músicas inclui tambores e instrumentos de percussão tipicamente brasileiros.

 

Andre é o destaque no palco. Com seu figurino, representa a encarnação da mistura proposta pela música do Angra: as camisas bufantes de inspiração renascentista contrastam tanto com seus traços indígenas quanto com as calças de couro que usa, características do estilo. Sua desenvoltura no palco denuncia a vasta experiência de mais de dez anos de apresentações ao vivo, apesar de ter apenas 25 de idade. Cantando confiante em um inglês com sotaque marcado, dispara notas super agudas com timbre limpo e afinação invejável. “Ele tinha uma voz peculiar, uma voz muito especial. Eu não conheço ninguém que soe como ele, especialmente quando ele canta suavemente. Ele era um mestre em cantar partes suaves, tinha muito controle”, fala Sascha Paeth.

 

 

Mudança suave

 

Após a extensa turnê de divulgação do Holy Land, a relação entre os integrantes do Angra já não estava muito boa. Mesmo com dois discos de ouro e sucesso internacional, a maioria dos rapazes continuavam morando na casa dos pais. As finanças da banda não eram transparentes, o que levantava suspeitas sobre o repasse do dinheiro das vendas de CDs por parte do empresário brasileiro à época, Antonio Pirani, para os membros. Andre, recebendo convites de gravadoras estrangeiras para lançar carreira solo, cogitou deixar o Angra, mesmo com todo o sucesso internacional da banda. "Teve um momento em que o Andre saiu da banda, logo após a turnê do Holy Land”, contou Kiko Loureiro em um vídeo recente do seu canal do Youtube, após a morte do cantor. "O [representante da gravadora francesa], que era muito ativo para a banda por sermos grandes na França, veio ao Brasil”. Em um jantar, o executivo e Loureiro tentaram persuadir Matos a permanecer no Angra. “Uma hora, [o representante da gravadora] ficou de canto. Lembro daquela lavação de roupa suja, eu e [Andre] conversando abertamente. Essa conversa fez com que o Andre voltasse para a banda, para os ensaios.” Convencido pelos demais membros e pela gravadora francesa a gravar mais um disco em conjunto, reuniu-se com o Angra para iniciar o processo de composição do Fireworks (1998), terceiro e último álbum da formação clássica da banda.

 

Fireworks é uma volta às raízes do metal: os elementos de música brasileira e a inspiração na música erudita ganham menos destaque, e a banda explora um som mais inspirado no rock clássico, embora com roupagem própria. Em meio ao virtuosismo de todos os integrantes, são as melodias agudas cantadas pelo timbre característico de Andre, então já marca registrada da banda, que fazem do som inconfundível. Em um período quando a popularidade do heavy metal decaía, dando lugar a estilos menos pretensiosos, como o grunge, o disco mistura linhas instrumentais velozes de guitarras com bases e mixagem mais soltas. O sucesso dos álbuns anteriores aumenta o orçamento da produção, e os teclados pomposos dão lugar a arranjos mais simples, desta vez tocados por uma orquestra real, que gravou nos famosos estúdios de Abbey Road.

 

Embora não seja o álbum mais inovador ou celebrado do Angra, Fireworks resulta na maior turnê do grupo até então: são dezenas de shows ao redor do mundo e várias turnês na Europa, com casas lotadas principalmente na França e na Itália. Um release da época anuncia: “Só em 99, tocaram no Dynamo Open Air (Holanda), Gods of Metal (Itália), CNR Festival e Eurockeonées Fest (França) e Wacken Open Air (Alemanha). Além disso, a ‘Fire World Tour 98/99’ passou pela Grécia, Bélgica, Espanha, Portugal, Áustria, Suíça, Japão, Austrália, Chile, Argentina e México”.

 

“Na época da turnê do Fireworks, o Angra era enorme lá fora. Na França, por exemplo, era igualada aos melhores nomes do metal e ovacionada em todos os shows”, me contou em entrevista recente Fabio Ribeiro, tecladista que excursionou com a banda na turnê do terceiro álbum. Sem dúvidas, a presença de Andre na banda era um dos motivos para o sucesso do Angra. “Com certeza, um dos melhores vocalistas do estilo de todos os tempos. Sua voz era incomparável, e seus dons de composição e performance, idem”, afirma Ribeiro. “Desde o início, o Andre influenciou diversos vocalistas que posteriormente se tornariam muito famosos, e era muito respeitado por aqueles que já eram considerados ícones, como Bruce Dickinson, que fez questão de participar de um dos concertos. Acho que todo este respeito é devido a sua originalidade, almejada por muitos vocalistas no mundo todo. É muito difícil ser original neste estilo, cantar bem sem exagerar, compor bem, apresentar bom gosto em tudo”, conclui.

 

É em meio ao estrondoso sucesso, após a grande turnê do Fireworks, que Andre decide definitivamente deixar o Angra. “Fizemos o álbum, a banda cresceu mais, fez turnês maiores, e aí ele não queria mesmo”, continua contando Kiko Loureiro em seu relato em vídeo. Em entrevista à MTV alguns meses após se separar da banda, no ano 2000, Andre tenta explicar suas motivações. “Tem muita gente que fala: 'você está fazendo uma besteira ao largar um negócio desse tamanho, uma banda que só vinha crescendo, que poderia conquistar o mundo'. Bom, eu sei disso. Eu sinto muito pelos fãs, a dor para mim por desmanchar uma coisa desse tipo é enorme, é um filho, uma coisa que eu mesmo criei. Mas o ideal é mais forte. Fazer música com prazer, para mim, é o mais fundamental”.

 

Um sinal de que a ruptura não foi repentina são os próprios créditos de composição das músicas do último álbum. Enquanto várias faixas do Fireworks foram compostas em parceria, principalmente entre Bittencourt e Loureiro (os dois guitarristas, que permaneceriam na banda), Andre aparece creditado sozinho em outras. “Na verdade [os problemas da banda] já existiam há algum tempo. Fireworks foi uma tentativa de reunir a banda num único objetivo. Mas não foi como queríamos. Gosto do CD, mas ele poderia ser melhor”, conta Andre Matos em entrevista ao site Whiplash, em 2004. “Gentle Change”, canção composta por Rafael Bittencourt, alude ao processo de separação da banda: “Lightning up another cigarrette / Playing cool while cracking up inside / Saying hi to people is like saying goodbye / Laughing, but wishing to cry”.

 

O Angra continua existindo até hoje, com a presença de Rafael Bittencourt, guitarrista e co-fundador. Entre os motivos para não continuar no Angra na época, Andre menciona que o empresário havia registrado o nome da banda. “Teríamos que entrar numa briga judicial para ficar com o nome.” As dúvidas que rodeavam o empresariamento levariam a outra crise no Angra, sete anos mais tarde, quando finalmente os integrantes conseguiram desvencilhar a marca do empresário brasileiro. Mas, então, Andre já trilhava um caminho distinto.

 

Em 2000, Andre, junto com Luis Mariutti e Ricardo Confessori, respectivamente baixista e baterista do Angra, junta-se a Hugo Mariutti, guitarrista e irmão de Luis, e, inspirados no título de uma das faixas do Holy Land, formam a banda Shaman.

 

 

O conto de fadas do metal melódico no Brasil

 

Angra e Shaman, embora não admitissem publicamente, foram alimentadas nos anos seguintes por uma rivalidade, ambas buscando o posto de maior grupo brasileiro de power metal. Há certo consenso de que o período entre 2001 e 2005 foi muito importante para o gênero no Brasil: os discos produzidos nestes anos rivalizam com as maiores obras internacionais do estilo e são até hoje celebrados; os shows, bem produzidos, lotavam grandes casas de show país afora. O próprio gênero ganhava um estatuto menos marginalizado no país, popularizando-se entre os jovens, em movimento contrário ao que acontecia na Europa.

 

Enquanto o Angra fez maior sucesso fora do Brasil durante os nove anos de permanência de Matos na banda, o Shaman estourou no seu próprio país pouco tempo após o lançamento do primeiro álbum. Ritual (2002) tem como mote a celebração dos povos ameríndios originários: em uma reedição da mistura inusitada entre as origens brasileiras e o metal, inclui na formação de rock arranjos tocados por instrumentos pouco usuais para o gênero, como tambores celtas, gaita de fole e flauta peruana, visando evocar uma atmosfera mística. Além disso, é um álbum enérgico, com composições marcantes que parecem estimuladas pela vontade de continuar fazendo música mesmo fora do ambiente seguro da banda renomada. Ricardo Confessori e Luis Mariutti exploram muito bem o som que os consagrou no Angra, mas o destaque fica para Hugo Mariutti, que introduz timbres e linhas de guitarra mais simples e pesadas, aproximando o som da banda ao heavy metal tradicional. “A gente tinha saído do Angra, e tinha que reinventar o jeito de fazer música sem perder as nossas características, porém sem copiar a maneira de fazer música do Angra”, relembrou Andre em entrevista ao programa Heavy Talk em julho de 2018.

 

Neste disco, Andre explora um lado mais agressivo da sua voz que se adapta muito bem às mudanças instrumentais: não mais adolescente, Matos canta com muitos drives (o efeito de “rasgar” a voz) e um timbre mais encorpado. Conhecido pelos agudos difíceis, arriscava novos lados em sua interpretação vocal. “Ele tentava desenvolver seu registro mais grave”, me conta Sascha Paeth, que também produziu o Ritual. “No final dos anos 90, falamos sobre isso. Eu perguntei: ‘o que você pode melhorar, o que você está mudando?’, e ele disse: ‘por mais engraçado que pareça, eu poderia melhorar meus graves’. Trabalhando sua voz, ele conseguiu tornar seus graves mais amplos e com um som maior.”

 

Contribuiu para o sucesso do primeiro disco do Shaman não só a qualidade, ou o fato de que a banda era formada por ex-integrantes do Angra, mas também a escolha de uma das faixas de Ritual como trilha sonora de uma novela da TV Globo, "O Beijo do Vampiro". A música “Fairy Tale” havia sido composta por Matos na época do Fireworks, mas acabou ficando de fora desse disco por decisão dos companheiros do Angra e do produtor, que a julgaram diferente demais do resto das faixas. A balada foi gravada no Ritual e virou a música de divulgação do álbum, quando fez muito sucesso, alcançando as paradas de clipes da MTV brasileira e sendo tocada à exaustão nas rádios.

 

A canção certamente é diferente do rock brasileiro divulgado na grande mídia até então: junto a coros em estilo gregoriano, Matos entoa a letra com inspirações românticas de “Fairy Tale” a partir de tons mais graves, em um crescendo que atinge seu clímax na última repetição do refrão, quando os agudos de Matos, então no ápice do desenvolvimento de seu controle vocal, estouram sobre a base de guitarras, piano e violinos. A música, cuja melodia e arranjos remetem à narração de um conto de fadas, é inspirada em um poema do avô de Matos, com quem o cantor viveu boa parte de sua vida.

 

A turnê do disco, que teve mais de 130 shows, foi registrada no DVD Ritualive (2003), considerado pelos fãs ainda hoje como o melhor registro ao vivo de uma banda brasileira do estilo. “Trabalhamos e investimos muito dinheiro para que isso acontecesse. E acredito que é um dos melhores DVDs que existem na atualidade no heavy metal mundial”, me contou recentemente Paulo Baron, na época empresário do Shaman. Os grandes destaques são a performance ao vivo de Andre e as participações especiais, que incluem Andi Deris e Michael Weikath, respectivamente vocalista e guitarrista da banda alemã Helloween, e Tobias Sammet, vocalista da banda Edguy e do projeto de “ópera metal” Avantasia, com o qual Andre gravou na época e, anos mais tarde, viria a excursionar em turnê mundial.

 

Este foi o momento em que a música de Andre Matos atingiu um público mais amplo no seu próprio país, abarcando inclusive grupos demográficos que tradicionalmente desconheciam ou tinham pouco interesse em metal. Nos programas em que os espectadores elegiam os videoclipes a serem tocados, populares particularmente na MTV brasileira, “Fairy Tale” permaneceu alguns meses sendo escolhido. O Shaman participava de programas de canais abertos, como TV Globo e SBT, e foi nesta época que Andre Matos foi entrevistado por Marília Gabriela. Uma segunda música do Ritual foi escolhida para ser trilha sonora, desta vez de um longa-metragem da Globofilmes com enfoque infanto-juvenil: o filme "Aquarius", estrelado pela dupla Sandy & Junior.

 

Paralelamente, o Angra, em nova formação, lançava também um álbum e um DVD ao vivo, que foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público. “O Shaman tinha isso determinado, que se ia fazer algo, era para fazer para valer. O Angra acredito que pensava no mesmo, que se era para voltar, que deveria ser com uma coisa destruidora”, me falou Baron. O heavy metal brasileiro vivia, então, um momento de popularidade no seu mercado interno. “A competitividade é bem importante justamente para você se esforçar para fazer as coisas melhores”, me falou Baron. “Foi uma época gloriosa para o heavy metal brasileiro.”

 

A recusa das fórmulas 

 

“A figura de uma virgem, um ser da terra”, é como o site de astrologia Personare descreve o signo de Virgem, que “enxerga sua limitação e busca incansavelmente pela melhor versão de si mesma”. Motivado ou não pelo seu ascendente astrológico, Andre, após cinco discos de estúdio, continuava a investigar outras versões musicais de si mesmo. Apesar de ter se tornado conhecido por sua proeza neste subgênero, Matos demonstrou certo afastamento em relação ao power metal na primeira metade da década de 2000. Após sua saída do Angra, produz o Ritual, que abandona algumas das fórmulas mais típicas do gênero, como as duas guitarras e os vocais limpos. Paralelamente, compõe e grava também um álbum em parceria com o produtor e guitarrista Sascha Paeth que tem pouco a ver com o som do Angra.

 

Virgo (2001), cujo nome faz referência ao signo de ambos os músicos, não tem nada a ver com power metal, e, na verdade, tem pouco a ver com metal de qualquer tipo. Apesar de ter sido um fracasso comercial para a gravadora na época, tornou-se com o passar dos anos um dos discos mais queridos dos fãs de Andre. Uma mistura de pop e rock clássico, tem músicas explosivas que remetem à sonoridade do Queen, como Blowing Away”, e composições como “River”, que resgatam o clima dos anos 70, misturando a cadência característica de bandas como Led Zeppelin com um coral gospel. Matos e Paeth exploram timbres e texturas diferentes na voz e na guitarra, respectivamente, e o resultado é um álbum totalmente diferente do power metal pelo qual ambos os artistas se tornaram conhecidos.  “Felizmente tínhamos um bom orçamento, e conseguimos fazer coisas bem legais. Tínhamos uma sessão de cordas bem legal, um coral bem legal, um estúdio bem legal. Foi lindo fazer isso, foi uma ótima experiência. Dá pra notar como nos divertimos fazendo ele”, conta Sascha. Virgo, apesar de ser um álbum pouco celebrado, demonstra a maturidade e a versatilidade de Andre como nenhum outro trabalho em sua carreira.

 

Apesar de já ter se arriscado no trabalho paralelo, é com Reason (2004), segundo disco do Shaman, que Andre afirma definitivamente o rompimento com as fórmulas do estilo que o consagrou. Após mais de vinte anos produzindo músicas que se encaixavam no subgênero, em 2004, Andre, junto com o Shaman, aposta em uma mudança: produzem um álbum que se aproxima mais do heavy metal tradicional, na tentativa de se afastar do rótulo de power metal, ou, como é conhecido no Brasil, metal melódico. “Particularmente eu me cansei [do estilo], sim. Acho que o metal melódico vem se repetindo constantemente, anda pouco original. Bandas como Helloween, Iron Maiden e até o Angra são bandas que promoveram o mesmo durante anos, mas atualmente o que vemos são bandas se repetindo constantemente dentro do estilo”, contou em entrevista ao Whiplash em junho de 2005. “Queremos ser uma banda sem rótulos, [não é] como se você entrasse numa loja de CDs e encontrasse uma grande prateleira de sub-estilos do metal! (risos). Tudo é heavy metal na essência... e isso que queremos.”

 

Reason talvez seja o álbum com a melhor produção da carreira de Andre. Todos os instrumentos soam bem e encorpados, e a diminuição da velocidade no andamento das músicas e na quantidade de notas executadas valorizam os timbres — inclusive da voz de Andre, que está mais agressiva do que nunca. “Turn Away”, a faixa de abertura, mostra clara influência de Judas Priest, com guitarras diretas e vocais agudos, mas rasgados, enquanto canções como “Rough Stone” e “Iron Soul” denunciam o apreço, já antigo, pelo som do Iron Maiden, com melodias nos refrões que mais parecem a declamação de hinos. Há, no entanto, uma melancolia estranha ao heavy metal tradicional, que ressoa em faixas como “Reason”, “Innocence” e “Born to Be”; a adição de toques do rock gótico é explicitada pelo cover de “More”, do Sisters of Mercy, em versão mais pesada. O disco não foi unanimidade: boa parte dos fãs se decepcionaram com as mudanças, enquanto outros ficaram positivamente surpresos com sua direção musical. As vendas se aproximam do Ritual , e a banda faz pequenas turnês na Europa, mas o sucesso é novamente interrompido: conflitos entre os membros levariam a uma nova separação depois da turnê do segundo disco do Shaman.

 

A hora da carreira solo e a decadência do power metal 

 

“O Shaman, antes de se separar, me buscou para ver se eu queria voltar a empresariar a banda”, me contou Paulo Baron. Baron é um empresário famoso na cena de rock brasileira: mexicano radicado no Brasil, desde muito jovem fã de heavy metal, foi responsável por diversas turnês de bandas internacionais no país e também pelo empresariamento do Shaman, do qual se separou pouco antes de estar à frente dos Scorpions, banda alemã precursora do hard rock. Ao contrário do que se esperaria de alguém no ofício, Baron não é muito reservado: recentemente, lançou uma autobiografia em que relata como influenciou momentos decisivos na carreira de Andre Matos, como na formação do Shaman. “O Andre Matos e eu sempre estávamos em contato. Ou ele estava em minha casa, ou eu estava na dele. Ele acabava de sair do Angra e se encontrava um tanto desiludido com o show business. Em meio a um bate-papo, sugeri que formássemos uma nova banda, e foi assim que surgiu o Shaman”, conta em seu livro Rocking All My Dreams, lançado em 2019 pela editora Inverso.

 

Segundo me contou, Baron também teve papel na decisão de Andre Matos de seguir em carreira solo. “Eles [os membros do Shaman] estavam em uma situação complexa. E na época eu não via motivo para voltar, disse para eles. Falei ao Andre: ‘isso não consigo fazer, não tenho vontade. Mas eu poderia, se quiser, montar uma banda chamada Andre Matos. Pois seu nome é forte. E poderíamos chamar Luis, Hugo e Fábio [respectivamente, baixista, guitarrista e tecladista do Shaman] para formar essa banda’.”

 

Matos lançou três álbuns em carreira solo: Time to Be Free (2007), Mentalize (2009) e The Turn of the Lights (2012). Embora as qualidades musicais dos trabalhos sejam reconhecidas pelos fãs, os álbuns nunca atingiram o patamar de sucesso e originalidade dos trabalhos anteriores. Perguntei para Baron o que pode ter ocasionado isso. “Creio que o que faltou foi um empresário que continuasse o trabalho do jeito que eu havia imaginado e projetado para o Andre desde o princípio”, me responde. Baron abandonou o empresariamento da carreira solo de Matos pouco antes do lançamento do primeiro álbum, cujo processo de finalização foi muito demorado. “Não tive paciência com isso e decidi sair da banda”, relata.

O destaque da carreira solo talvez seja o primeiro disco, cuja banda conta com os membros remanescentes do Shaman (Hugo e Luis Mariutti, Fabio Ribeiro), Andre Hernandes (guitarrista que participara de alguns ensaios do Angra e compora riffs antes da gravação do primeiro disco) e Rafael Rosa (bateria). Time to Be Free mistura as características musicais das diferentes bandas de Matos com arranjos mais modernos, no que é quase uma tentativa de reimaginar o power metal para o século XXI. Na canção de abertura do álbum, intitulada “Letting Go”, as guitarras praticamente se mesclam às orquestrações de fundo na mixagem, propondo uma renovação da mistura entre metal e música clássica, e a melodia da voz é surpreendentemente melancólica, contrastando com o alto registro e a velocidade dos instrumentos. A turnê do disco foi relativamente grande: mais de 50 shows entre Brasil e Europa (onde a banda de Andre Matos excursionou abrindo shows de Edguy e Scorpions). Na mesma época, Andre ainda participou da primeira turnê mundial do grupo Avantasia, que reúne vários vocalistas renomados do gênero.

 

Mentalize (2009), o álbum seguinte, é mais previsível: embora haja boas faixas e grandes performances — o destaque fica para as baterias de Eloy Casagrande, que anos depois integraria o Sepultura —, boa parte das músicas volta à fórmula padrão do power metal, que à época já estava desgastada. “As coisas começaram a se descontrolar na parte musical, coisa que não havia acontecido no primeiro álbum”, contou Fabio Ribeiro, à época tecladista da banda, em entrevista ao site X-Press On em 2013. Segundo Fabio, o álbum foi produzido às pressas para atender às exigências da gravadora japonesa com a qual a banda tinha contrato; havia sido dado um adiantamento para a produção do disco e um prazo bem apertado para o fim das gravações. “É de uma idiotice muito grande nos tempos de hoje respeitar as opiniões de uma suposta gravadora, principalmente quando a visão desta gravadora é antiquada e totalmente presa em um estilo de música que se não é bem arquitetado pode se tornar limitado e chato”, completou à época, ao explicar, na entrevista, os motivos para ter deixado a banda algum tempo antes.

 

Retrospectivamente, Fabio mantém a avaliação sobre a crise na banda. “Sim, tivemos problemas profissionais diversos naquela época, mas jamais problemas pessoais. Desde a lamentável troca de empresário após o primeiro álbum, que desencadeou a onda de insatisfações na banda, até a real pressão das gravadoras por ‘mais do mesmo’ no segundo álbum. A falta de tempo para a realização do trabalho e os ‘pitacos’ no som que deveríamos fazer acabou deixando muita gente descontente.”

 

Entre os shows de divulgação de Mentalize, Andre se casou, mudou-se para a Suécia e teve um filho. Lá, foi convidado por Timo Tolkki, renomado guitarrista e fundador da banda finlandesa Stratovarius (uma das primeiras bandas de power metal internacionalmente reconhecidas, junto com Helloween e Angra) a fundar um “super-grupo” formado por músicos do gênero de diversos países: surgia o Symfonia. A banda rendeu apenas um álbum, In Paradisum (2010), que é praticamente um pastiche do gênero. Depois de algumas datas esparsas e uma turnê mal-sucedida na América do Sul, o grupo foi terminado. O interesse do público no power metal havia diminuído drasticamente no final dos anos 2000, o que se refletiu no fracasso do Symfonia. “Enquanto estava deitado no escuro no hotel Fórmula 1, em São Paulo (o mais barato que há por lá), eu comecei a ter dúvidas sobre o meu futuro como músico”,  escreveu um ressentido Timo Tolkki em um post de Facebook em 2011, que anunciava a decisão de terminar com a banda e a sua carreira musical. Os shows da pequena turnê na América do Sul tinham ficado aquém da expectativa, com públicos que iam de 100 a 350 pessoas. “Quando o número de vendas da [gravadora] Edel Records e o resultado da agência de agendamentos chegaram, eu decidi jogar a toalha. Não fazia sentido tentar ‘conquistar’ o mundo do metal, uma vez que estava claro que não havia interesse suficiente.”

 

 

O virar das luzes no fim da carreira

 

Aos 47 anos de idade, a sua voz não é a mesma, e Andre mostra sinais visíveis de cansaço. Os cabelos estão mais rarefeitos, e o sobrepeso empresta outro ar à performance no palco — menos eufórica do que de costume — e às roupas características do gênero — que mais lembram fantasias renascentistas. Mas Andre Matos possui algo que qualquer artista invejaria: a profunda admiração e o inalienável respeito dos fãs das mais diferentes idades, que foram conquistados ao longo dos mais de 30 anos de carreira. Em 2 de junho de 2019, ao entrar no palco do Espaço das Américas, casa de shows em São Paulo que atingia a lotação máxima de 8 mil pessoas, foi ovacionado pelo público naquela que seria a sua última performance, uma semana antes de sua morte.

 

Os últimos nove anos da carreira de Andre Matos foram uma celebração das suas grandes obras. Em 2011, após o fim do Symfonia, o Viper, primeira banda de Andre, anuncia uma pequena turnê de reunião, que, estimulada pelo interesse dos fãs, se prolonga pelo ano seguinte e passa por dezenas de cidades no Brasil, com shows cheios de um público cativo e emocionado que canta todas as músicas do Soldiers of Sunrise e do Theatre of Fate. Em 2012, Matos lança o seu último disco em carreira solo, The Turn of the Lights. O álbum, o primeiro da carreira de Andre gravado totalmente no Brasil desde o seu disco de estreia, é bem recebido pelo público e pela crítica. A turnê de divulgação é usada como oportunidade para tocar na íntegra o primeiro álbum do Angra, Angels Cry, cujo lançamento completava 20 anos em 2013. O cume da excursão é o show no Rock in Rio de 2013 — os grandes clássicos de Angra e Viper são entoados por dezenas de milhares de fãs, no próprio festival que inspirou Andre e amigos a virarem músicos.

 

A rotina se repete na turnê seguinte, em que Andre toca Holy Land na íntegra. Em 2018, o Shaman anuncia que também fará uma reunião, com todos os integrantes originais, tocando Ritual e Reason. A turnê — que lotou grandes casas de shows nas principais capitais do país — termina na fatídica data do Espaço das Américas, em São Paulo, quando Andre ainda faz participação especial no show do Avantasia, reencontrando os amigos de longa data Sascha Paeth e Tobias Sammet.

 

Após o anúncio da sua morte, no dia 8 de junho de 2019, uma grande comoção toma conta das redes sociais. Grandes nomes do estilo, como Blaze Bayley (ex-vocalista do Iron Maiden), Kai Hansen (co-fundador do Helloween), Tobias Sammet (líder do Avantasia), Sander Gommans (fundador da banda holandesa After Forever), o perfil oficial do Epica (grupo de metal com mais de 2 milhões de seguidores), entre outros, postaram mensagens de consternação pelo falecimento do cantor. Foi no Brasil, no entanto, que sua morte foi mais sentida. Uma missa de sétimo dia abarrotou a Igreja da Consolação, no centro de São Paulo, com mais de 500 cabeludos de várias idades, e uma grande mobilização entre os fãs deu origem à instituição, em São Paulo, do Dia Municipal do Metal. Um mês após o falecimento de Matos, o Angra convidou integrantes das outras bandas de Andre para participar de uma homenagem póstuma em um show gratuito na Praça da República, em São Paulo, no Dia do Rock. No palco do Rock in Rio 2019, o Sepultura fez uma homenagem póstuma ao cantor, tocando a introdução de "Carry On" e projetando sua imagem nos telões para dezenas de milhares de pessoas.

Embora não tenha atingido internacionalmente o mesmo status que tinha na época do Angra, o final da carreira de Andre foi marcado pelo acolhimento dos fãs brasileiros. Se Viper, Angra e Shaman adquiriram reconhecimento internacional, cada uma à sua maneira, pela tentativa de misturar novos elementos ao heavy metal, é na cena nacional que a obra de Andre tornou-se mais valorizada. A um público acostumado a ouvir música importada, Andre Matos mostrou que era possível produzir obras de qualidade, valorizando a cultura nacional e ostentando sua identidade como virtude. Em um meio restrito e fechado às influências eruditas e populares, mostrou que a mistura é sempre um caminho para a criatividade. E em momentos quando a música tocada nas rádios e na TV parecia ultraprocessada, mostrou que havia espaço para algo poderoso e idiossincrático como o metal.

 

Até o fim de sua vida, Matos fazia jus à sua tentativa de tornar o próprio gênero em que se tornou conhecido mais aberto. Em concertos de piano e voz, lotava teatros de headbangers interessados em ouvir a performance acústica. A divulgação póstuma de um ensaio que fazia com Robertinho de Recife, virtuoso guitarrista pernambucano, mostra a inusitada versão feita para o inglês da música “Noturno”, do cantor popular Fagner, que nunca chegou a ser lançada oficialmente.

Por outro lado, as turnês celebratórias que realizava nos últimos anos de vida funcionaram como uma breve retrospectiva que joga nova luz sobre a sua carreira e a sua relação com o heavy metal. Como todo grande artista, a sua obra pode ser interpretada como uma tentativa de definir a própria arte em seu meio. “Muitas pessoas pensam (e eu dou alguma razão a elas) que o metal é um estilo muito conservador, ou que o público do metal não aceita facilmente novidades ou mudanças, que fica preso às coisas com as quais se sente confortável”, falou Andre, em entrevista ao site Metal Meltdown em março de 2013 (em inglês). “Por outro lado, eu acho que o metal é um dos estilos musicais mais abertos a misturas, a diferentes influências, especialmente de música clássica. Eu acho que ela cabe perfeitamente no metal, porque há muitas semelhanças entre os dois estilos, como o poder, a potência de ambas as sonoridades, os solos, as linhas. Os temas — se você compara algumas sinfonias ou óperas aos temas de heavy metal em álbuns, eles realmente combinam, de alguma forma. Então eu acho que, no século XX, o metal, ao aparecer no final dos anos 60 ou 70, era a continuidade da música clássica. Se você olha para trás e pega alguém como Mozart ou Paganini ou Liszt, o que mais eles eram senão músicos de metal em seu tempo? É nisso que eu realmente acredito.” ∎ 

Edição: Hugo Salustiano, Antonio Kerstenetzky

Agradecimentos: Sascha Paeth, Paulo Baron, Felipe Machado, Fabio Ribeiro, Dener Ariani. 

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Luiz Eduardo Freitas é editor da Capivara e headbanger desde a primeira vez em que ouviu Andre Matos.

luizeduardolef@gmail.com

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Soldiers of Sunrise (1985)

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Theatre of Fate (1989)

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Angels Cry (1993)

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Holy Land (1996)

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Holy Live (1997)

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Fireworks (1998)

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Ritual (2002)

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Ritualive (2003)

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Virgo (2001)

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Reason (2004)

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Time to Be Free (2007)

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Mentalize (2009)

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The Turn of the Lights (2012)

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In Paradisum (2011)

O maestro do 'power metal' brasileiro

Luiz Eduardo Freitas

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